Te ergui altar no meu peito,
E rezei cada palavra tua como se fosse sagrada.
Fui inteiro. Fui chama. Fui chão.
Fui silêncio onde teus gritos dançavam.
Dei meu nome, minha alma,
Como quem oferece o último gole ao sedento.
Mas tu cuspiste nos espelhos do meu afeto,
E quebrou cada gesto como se fosse vidro barato.
Fez da minha entrega uma cruz,
E da tua ausência um abismo.
Eu morri por ti. Morri tantas vezes
Que aprendi a viver com a morte sentada à mesa.
Hoje, não restou amor nem pó.
Restou o vazio. E é nele que me tornei aço.
Meu ódio não grita, não quebra
Ele observa, frio, cortante,
Como navalha limpa sobre a pele morna.
Não desejo tua dor.
Desejo tua existência… longínqua.
Desejo que me veja intocável,
Porque tua ausência me fez inatingível.
Transformei tua mentira em armadura.
Tua covardia em espada.
E agora carrego o peito sem sentimentos
Como quem carrega um templo de pedra
Invulnerável, pesado, sagrado.
Foste o fogo que me queimou.
E hoje sou cinza que não voa.
Sou rocha.
Sou tudo que não sente.
Sou tudo que, um dia,
Te amou demais.