Nasce a manhã com a mesma cor pálida,
o céu entorpecido de promessas quebradas.
Caminho entre sombras de dias que não foram,
com os bolsos cheios de nada.
A esperança essa traidora suave
sussurra em mim como se fosse brisa,
mas é vento de cemitério,
é vela que nunca acende.
Esperei no portão da alma aberta,
os olhos feridos de tanto horizonte.
Cada estrela uma mentira,
cada aurora, uma ironia.
Dizem que ela vem.
Dizem sempre.
Mas o tempo, cínico, ri por trás do silêncio,
e os ponteiros giram sobre o mesmo vazio.
Há um grito engasgado no relógio,
há uma oração presa no estômago.
A esperança não chega
mas continua avisando que vem.
E eu fico.
Fico na febre do quase,
na eternidade do talvez,
com a fé vestida de luto.
Marcelo Cardoso Nascimento.